A Província Mineral de Carajás se localiza na região centro-leste do estado do Pará, norte do Brasil, próxima ao município de Parauapebas, a cerca de 500 km de distância da capital, Belém. É considerada a maior mina de minério de ferro a céu aberto do mundo. Atualmente, Carajás possui uma produção anual superior a 300 milhões de toneladas de minério de ferro.
A descoberta de Carajás se deu “por acaso” em 1967, essa história é contada com detalhes no livro “Carajás: A Descoberta”, de Erasto Boretti de Almeida. Resumindo o acontecido, o geólogo Breno Augusto do Santos e sua equipe da US Steel procuravam naquela região do Pará por Manganês, um elemento estratégico no então contexto da Guerra Fria, mas acabaram encontrando várias clareiras no meio da floresta Amazônica que vieram a descobrir que se tratavam de rochas com grande teor de ferro. Para saber mais sobre a descoberta de Carajás veja o documentário sobre o ocorrido aqui. Mesmo sendo descoberta no final dos anos 60, as operações de extração e beneficiamento de ferro só iniciaram em 1985.
Figura 1 - Mina a céu aberto na Serra dos Carajás (Foto: T photography / Shutterstock.com).
Contexto Geológico
A Província Carajás abrange uma área de cerca de 4 milhões de km². Ela foi formada e estabilizada durante o Arqueano, correspondendo assim ao núcleo crustal mais antigo inserido no Cráton Amazônico. Essa Província foi individualizada e subdividida em dois domínios: Rio Maria e Carajás.
Delimita-se a Província Carajás à Norte por domínios com idades paleoproterozoicas e a Sul por porções arqueanas que sofreram retrabalhamento no paleoproterozoico. Em seu limite a leste encontra-se rochas neoproterozoicas e a oeste, rochas ígneas e sedimentares datadas do paleoproterozoico.
Figura 2 - Tabela cronoestratigráfica internacional.
Os Domínios da Província Carajás
O Domínio Rio Maria (Fig. 3) possui majoritariamente um terreno Granito-Greenstone, composto por rochas metavulcanossedimentares que formam sequências do tipo greenstone belt. As idades registradas nessas sequências a partir de datações por U-Pb estão por volta de 3 e 2,9 bilhões de anos. Esse domínio possui também granitos anorogênicos do paleoproterozoico e demais rochas do arqueano, como TTG’s e leucogranitos.
Figura 3 - Mapa geológico da Província Carajás, onde: DC - Domínio Carajás e DRM - Domínio Rio Maria (retirada de M.G. Silva et al, 2014).
Já o Domínio Carajás (Fig. 4) é composto simplificadamente por embasamento de gnaisses tonalíticos e trondhjemíticos do mesoarqueano, por formações ferríferas bandadas metamorfizadas e magmatismos do neoarqueano e granitos alcalinos a subalcalinos que representam o magmatismo ocorrido no paleoproterozoico.
Figura 4 - Mapa geológico com maior nível de detalhe do Domínio Carajás e áreas em seu entorno (retirada de M.G. Silva et al, 2014).
Depósitos Minerais do Domínio Rio Maria
Foram documentados depósitos de ouro orogênico associados às zonas de cisalhamento regionais presentes no Domínio Rio Maria. Há também depósitos auríferos relacionados a intrusões. Depósitos como o de Babaçu, Mamão e Lagoa Seca, possuíam teores que variavam entre 7 a 10 gramas de ouro por tonelada de rocha extraída.
Um dos exemplos dessas reservas de ouro no domínio Rio Maria é o depósito aurífero de Diadema, que está contido ao longo da Zona de Cisalhamento de Diadema, mostrada na Figura 5, a qual indica ocorrências de ouro. É no domínio Rio Maria ainda que se encontra o principal depósito de tungstênio da Amazônia de que se tem conhecimento, com 508.300 toneladas de minério desse metal.
Figura 5 - Mapa geológico do depósito de ouro em Diadema. As estrelas vermelhas presentes na imagem indicam a ocorrência de ouro (retirada de M.G. Silva et al, 2014).
Depósitos Minerais do Domínio Carajás
Além das grandes reservas de Ferro, se conhece também no Domínio Carajás depósitos de bauxita, manganês, ouro, cromo, elementos do grupo da platina (EGP), ouro-EGP e níquel.
Os gigantescos depósitos de ferro estão distribuídos principalmente nos 39 corpos de minério de ferro de alto teor, localizados nas Serras Norte, Sul e Leste. Essas reservas possuem cerca de 18 bilhões de toneladas de minério de ferro, com teores que podem alcançar 67% de pureza.
Para ilustrar com um exemplo de como são os depósitos de ferro do domínio Carajás. A figura 6 exibe o mapa geológico da mina N4E, nesse local o minério de ferro de alto teor (cerca de 65% de Fe) corresponde a formações ferríferas bandadas (BIFs), nesse caso jaspilitos, que chegam a 400 m de espessura e é cortado por intrusões de rochas máficas.
Figura 6 - Mapa Geológico da mina N4E (retirada de M.G. Silva et al, 2014).
No geral, o minério de ferro de alto teor é representado por corpos de hematita friável e hematita compacta, ambos costumam apresentar estrutura tabular, com a diferença que os corpos de hematita friável possuem grande porosidade, são descontínuos e podem apresentar formas bandadas ou laminadas. Já a hematita compacta, além de apresentar também formas tabulares, se encontra geralmente concentrada próximo ao contato inferior com rochas metamórficas.
A origem das enormes quantidades de minério de ferro de Carajás são explicadas como sendo consequência da lixiviação da sílica, proporcionada por águas superficiais, em rochas ricas em Fe. Isso ocorre porque a sílica (SiO2) acaba sendo mais móvel do que o Fe, assim, ao ocorrer a lixiviação da rocha, maiores quantidades de sílica serão levadas por essas águas superficiais, enquanto o Fe, mesmo sendo lixiviado, por ser um elemento menos móvel, ficará com uma maior concentração em relação a sílica, de modo que a rocha se torne enriquecida em Fe.
Outros Depósitos Minerais
Apesar de o minério de ferro de Carajás ser bem famoso ao redor do mundo, a província mineral possui outros depósitos minerais muito importantes, como os depósitos de óxido de ferro-cobre-ouro (IOCG).
São encontrados também depósitos de Cu-Au polimetálicos datados do paleoproterozoico; de Au-Pd-Pt encontrados em Serra Pelada, que ganhou grande projeção nacional e mundial devido a corrida do ouro que ocorreu na região na década de 1980 e que produziu mais de 30 toneladas de ouro; de Cr-Ni-EGP presentes em corpos máficos-ultramáficos diferenciados; de Cromo em cromititos; também os depósitos de Manganês, de Níquel e Bauxita, entre outros.
Figura 7 - Mapa geológico de Serra Pelada (retirada de M.G. Silva et al, 2014).
Produção de Minério de Ferro em Carajás
Apesar dos demais depósitos, o principal interesse de exploração em Carajás é o minério de ferro. Em 2020, mesmo com a pandemia, a produção de ferro, segundo informações da Vale (principal mineradora de ferro em Carajás), foi de 300,4 milhões de toneladas, já em 2021, a produção ultrapassou as 315 milhões de toneladas. A Vale pretende até o final de 2022 alcançar a produção de 400 milhões de toneladas de minério de ferro.
Atualmente, a principal mina produtora de ferro da Vale é a S11D, localizada na cidade de Canaã dos Carajás. S11D é considerado o maior complexo minerador da história da empresa e produz anualmente cerca de 90 milhões de toneladas de minério de ferro.
Autor: Hugo Oliveira
Referências:
Complexo S11D Eliezer Batista. [S. l.]: Vale, 2016. Disponível em: http://www.vale.com/hotsite/PT/Paginas/Home.aspx. Acesso em: 28 abr. 2022.
Conheça mais sobre a história de Carajás, a maior mina de minério de ferro do mundo. [S. l.]: Vale, 10 ago. 2018. Disponível em: http://www.vale.com/hotsite/PT/Paginas/conheca-mais-sobre-historia-carajas-maior-mina-minerio-ferro-mundo.aspx. Acesso em: 28 abr. 2022.
Relatório de Produção 4T20. [S. l.]: Vale, 2022. Disponível em: http://www.vale.com/brasil/pt/business/reports/4t20/paginas/producao.aspx. Acesso em: 28 abr. 2022.
ROSAS, Rafael. Produção de minério da Vale em 2021 soma 315,6 milhões de toneladas, alta de 5,1%: No quarto trimestre, a produção foi de 82,473 milhões de toneladas, queda de 2,4%. Rio de Janeiro: Valor Investe, 10 fev. 2022. Disponível em: https://valorinveste.globo.com/mercados/renda-variavel/empresas/noticia/2022/02/10/producao-de-minerio-da-vale-em-2021-soma-3156-milhoes-de-toneladas-alta-de-51percent.ghtml. Acesso em: 28 abr. 2022.
SILVA, M. da G. da;, ROCHA NETO, M. B. da;, JOST, H., & KUYUMJIAN, R. Minas. (2014). METALOGÊNESE DAS PROVÍNCIAS TECTÔNICAS BRASILEIRAS.