Hipogênese X Supergênese
Os minérios e qualquer tipo de mineral podem se formar por consequência de fenômenos de origem profunda ou superficial. No primeiro caso, os minérios são chamados de hipogênicos e, no último, de supergênicos. Os depósitos hipogênicos são formados em profundidade por soluções ascendentes com recarga proveniente de fluidos ascendentes oriundos de fontes distantes e/ou internas, que não dependem da recarga direta da superfície adjacente.
Processos atuantes no interior da Terra
Segregação magmática
São depósitos formados diretamente pela cristalização do magma e não incluem os pegmatitos. Eles podem ser classificados por:
Cristalização fracionada: no magma fundido, alguns cristais podem se cristalizar mais cedo do que outros, à medida que ocorre o resfriamento e o ponto de cristalização de cada mineral é atingido. Nesta etapa, os minerais não estão em equilíbrio com o melt e começam a se diferenciar do líquido em fusão devido à diferença de densidade entre eles. Os processos de diferenciação de densidade e gravitacionais são os mais importantes e resultam na formação de cristais mais pesados na base da câmera magmática.
As rochas formadas são denomidas de cumulatus e são geralmente caracterizadas pelo acamamento alternado (camadas de magnetita e/ou cromita e camadas de silicatos, como no Completo Ígneo de Bushveld). É comum encontrar os minerais acessórios de Cr, Ti, V e Fe (óxidos), Ni, Cu e EGP (Elementos do Grupo dos Platinoides) formados nos estágios iniciais de cristalização do magma.
Figura 1: Ilustração do processo de cristalização fracionada dentro de uma câmera magmática. Fonte: Press et al. (2006).
Imiscibilidade de líquidos: envolve a separação de um magma originalmente homogêneo a uma alta temperatura em duas frações líquidas coexistentes, a uma temperatura mais baixa. Em fusões silicatadas, o grau de imiscibilidade é muito pequeno, porém, pode explicar a segregação de partes básicas e ácidas a partir de um magma. Em fusões de composição silicato-carbonato e silicato-sulfeto, a imiscibilidade líquida é mais extensa e o processo opera em grande escala.
Figura 2: Depósitos de Segregação Magmática Compilado de Xavier. 2009. www.ige.unicamp.br/site/aulas/99/Maficas-ultramaficas.ppt.
Pegmatitos
São rochas ígneas de granulação muito grosseira, que geralmente formam diques e massas de até 1-2km de comprimento e correspondem à representação da fase volátil do magma (processo pneumatolítico).
Os depósitos minerais econômicos estão relacionados aos pegmatitos graníticos originados dos magmas félsicos com água. Elementos residuais como Li, Be, Nb, Ta, Sn e U não são acomodados na cristalização final da fase silicática e, por isso, cristalizam-se na fase volátil. O pegmatito é formado quando essa fração é inserida nas rochas regionais e as temperaturas de deposição podem variar entre 250 a 750ºC.
Os pegmatitos são formados na fase final do resfriamento do magma, quando ocorre a percolação de soluções em sílica, água e, às vezes, em alguns íons que não entraram na estrutura cristalina dos minerais já formados. A partir destas soluções hidrotermais, a rocha em questão é formada, composta principalmente por quartzo e feldspato potássico. Em alguns casos, essas soluções podem estar enriquecidas de elementos economicamente importantes, fazendo com que alguns pegmatitos contenham uraninita, estanho, turmalina ou topázio.
A Província Pegmatítica Oriental ocupa uma faixa enorme, com cerca de 800 km de extensão por 100 a 150 km de largura, estendendo-se de NNE para SSW ao longo da parte oriental do estado de Minas Gerais, até o sul da Bahia.
Hidrotermal
Os processos hidrotermais são caracterizados por soluções aquosas quentes que resultam na formação do Depósito Mineral. A temperatura varia entre 50ºC a 450ºC onde a água possui uma alta salinidade (salmoura) na fase mais importante. Este processo é melhor descrito neste texto em nosso blog.
Secreção lateral
Formação de depósitos minerais por lixiviação de metais e sílica da rocha hospedeira. O magma separa os elementos químicos das rochas adjacentes, interagindo com a rocha encaixante devido à abertura causada pelas fraturas. É difícil diferenciar do embasamento – derivado de fluidos hidrotermais.
O caso do Yellowknife Goldfields é um bom exemplo de secreção lateral. Esse depósito mineral ocorre em lentes de quartzo-carbonato em zonas de cisalhamento clorítica cortando anfibolitos, e os principais minerais dele são o quartzo, carbonatos, sericita, pirita, arsenopirita, stibnita, calcopirita, pirrotita, esfarelita, galena e ouro nativo. O quartzo é o mineral mais importante e tem uma quantidade substancial sido subtraída do halo de alteração. Ocorre uma subtração de Fe, Mg, Ca, Ti e Mn e é indubitavelmente a fonte de mineral minério de pirita-calcopirita-pirrotita.
Metassomatismo de contato
A rocha quente intrude rochas mais frias, provocando uma “queimadura” na rocha encaixante. A rocha intrusiva fornece o calor e os fluidos com metais e/ou necessários para a reconcentração formando os depósitos minerais.
Metamorfismo regional
As rochas preexistentes são modificadas por um aumento de pressão superior ao aumento de temperatura e de tensões litostáticas. Está relacionado a limites convergentes, onde a hidratação ou desidratação podem concentrar metais no “front” de metamorfismo.
Figura 3: Ilustração mostrando um exemplo de metamorfismo regional e de contato. Fonte: Tipos de Metamorfismo, Hélder Giropo Paiva- EPL.
Metamorfismo Hidrotermal
É resultado da percolação de águas quentes ao longo de fraturas e espaços intergranulares das rochas. Transformações ocorrem devido à reação entre a rocha hospedeira e os fluidos quentes (salmoura).
Figura 4: Ilustração de um metamorfismo hidrotermal. Fonte: Decifrando a Terra - W. Teixeira et al (2000).
Metamorfismo dinâmico
A pressão é o principal agente transformador da rocha original (protólito). Ocorre em zonas de falhamentos e em zonas de cisalhamento, que são importantes ambientes para deposição de ouro.
Figura 5: Ilustração de um metamorfismo dinâmico. Fonte: Decifrando a Terra - W. Teixeira et al (2000).
Quando a temperatura é o agente dominante na transformação da rocha, esta pode ser denominada de “metamorfito”. Quando a pressão predomina, a rocha é chamada de “tectonito”, sendo tectonito-S, se a estrutura principal é a foliação, ou tectonito-L, se é a lineação.
Referências
COUTINHO, M.G.N.; SOUZA, E.C.; GUIMARÃES, M.T.; WALSH, J.N.; VINHA, M.L.; NEUMANN, R. Mineralização e zonas de alteração. Cap. 7, 2008. Disponível em: http://www.cprm.gov.br/publique/media/geologia_basica/Cap7_Mineralizacao_Zonas_Alteracao.pdf
Decifrando a Terra – W. Teixeira, M.C.M. Toledo, T.R. Fairchild e F. Taioli – Oficina de Textos –
São Paulo.
NETO, M.T.O.C.; ROCHA, A.M.R. Noções de prospecção e pesquisa mineral para técnicos de geologia e mineração. Natal,Ed. IFRN,2010.
PAIVA, Hélder Giropo. Tipos de metamorfismo. Disponível em:
https://lubangocomciencia.weebly.com/uploads/9/4/4/0/9440481/tipos_de_metamorfis
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PRESS, F; SIEVER, R.; GROTZINGER, J.; JORDAN, T. H. Para entender a Terra. 4. ed. Tradução
Rualdo Menegat. Porto Alegre: Artmed, 2006. 656 p. il.
SILVA, M.G.; NETO, M.B.R.; JOST, H.; KUYUMIJAN, R.M. Metalogênese das províncias tectônicas brasileiras. Ed. 1º. Belo Horizonte, CPRM,2014.
TADEU, Décio. Engenharia Geológica e de Minas/IST. Disponível em: https://geomuseu.ist.utl.pt/RG2013/Sebentas/Conceitos%20base.pdf
Autora: Ana Clara Pires