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Faixas Araguaia e Paraguai

Localização e estruturação das faixas


A faixa Araguaia está localizada na porção centro-norte do Brasil, uma unidade orogênica do Neoproterozoico, constituindo a porção setentrional da Província Tocantins. Essa faixa se estende submeridianamente por mais de 1200 km, com larguras da ordem de 100 km, sendo constituída principalmente por rochas metamórficas, com menor contribuição de rochas carbonáticas. O seu limite leste é recoberto por rochas sedimentares da Bacia do Parnaíba (Paleozoico-Mesozoico), enquanto no Oeste as rochas de baixo grau metamórfico estão assentadas em discordância angular ou por cavalgamento sobre rochas do Arqueano-Paleoproterozoicas do Cráton Amazônico.


A faixa Araguaia era considerada uma continuação da faixa Paraguaia – a faixa Araguaia Paraguai, que hoje são tratadas como unidade geotectônica distinta devido à falta de continuidade entre elas.


A faixa Paraguaia passa pelas bordas no sudeste do Cráton Amazônico, sua evolução estratigráfica não se deu com preenchimento sedimentar único, com diferenças entre suas unidades, principalmente entre as de natureza carbonática, implicando em evoluções metalogenéticas também distintas, o que levou à subdivisão.


Grupos da Faixa Araguaia


O conjunto metassedimentar da faixa, no Supergrupo Baixo Araguaia, é dividido em Grupo Estrondo, Formação Pequizeiro e Couto Magalhães. O Grupo Estrondo é distribuído por todo domínio Leste e composto por quartzitos, moscovitas, xisto com granada e metaconglomerados. Pequizeiro e Couto Magalhães são subdivisões do Grupo Tocantins (Figura 1), um é formado por muscovita-clorita-quartzo xistos, filitos e quartzitos e o outro por filitos, ardósias, quartzitos e metacalcários. O Grupo Estrondo tem registrado condições metamórficas da fácies anfibiolito médio e o Grupo Tocantins é caracterizado por metamorfismo de grau extremamente fraco com a preservação de estruturas primárias.



Figura 1 - Cinturão Araguaia, seu embasamento e limites com o Cráton Amazônico, Bacia do Parnaíba e Maciço de Goiás - dando ênfase no Grupo Estrondo e Tocantins (modificado de Alvarenga et al. 2000).


Histórico de Mineralização da Faixa Araguaia e depósitos de cromita


As atividades garimpeiras de ouro na Faixa Araguaia tiveram seu auge entre os anos 1980 e 1987, em 1980 e 1984 a Beta Mineração Ltda iniciou a pesquisa para cromita no Complexo Quatipuru selecionando duas áreas principais, denominadas de Bananal e Atoleiro. Entre os anos de 2003 e 2007 os altos preços do níquel no mercado internacional desencadearam o retorno do estudo em corpos ultramáficos similares ao complexo Quatipuru.



Figura 2 - Mapa geológico do Complexo Quatipuru apresentando como principais áreas de ocorrência de cromititos, além da seção tipo esquemática do complexo, que mostra o envelope de listwanito que fornece sustentação da serra. Fonte: Modificado de paixão (2009).


Os depósitos de cromita ocorrem em dois locais distintos da pseudoestratigrafia de complexos ofiolíticos. Geralmente, os depósitos de cromita em ofiolitos correspondem a uma aglomeração de pequenos corpos de cromito num grande maciço, ou pequenos corpos em fragmentos ofiolíticos. Aprofundando nas áreas com potencial para cromita, na região das cabeceiras do rio Bananal, com aproximadamente 2.000 m², foram investigadas por meio de trincheiras e furos de sondagem, eles correspondem a pods que revelam a presença de bandamentos primários, bem como envelopes de dunito – interpretados como produto da interação de magmas ascendentes com harzburgito encaixante. Outra ocorrência de cromita é encontrada em elúvio e colúvio na região do Atoleiro.


Figura 3 - Transição harzburgito-dunito. Fotomicrografia de estágio perto desta transição com escala igual para todos. Fonte: Modificado de paixão (2009)


Mineralização sulfetada de Cu-Pb-Zn, depósitos auríferos e depósitos de Níquel lateríticos


As mineralizações sulfetadas de Cu-Pb-Zn na Faixa Araguaia formam a mineralização sulfetada estratiforme de São Martim, localizado no domínio da Formação Couto Magalhães, testemunhos de sondagens revelaram que as rochas sedimentares dessa área correspondem a uma sequência siliciclástica e carbonática, depositada em taludes e assoalho oceânico. A presença de soleiras de basalto/diabásio em meio a rochas metassedimentares é o metalotecto litológico de interesse para zonas mineralizadas, e devido a grande extensão desta unidade, inclusive sua continuidade com a Faixa Paraguaia, abre interesse para novas descobertas de complexos deste tipo.


Os depósitos de ouro podem ser encontrados em sequências ofiolíticas, esse ocorrendo em veios de quartzos, com ocorrências de intercalações em rochas máficas e sedimentos. As mineralizações auríferas são primárias com disseminações de quartzo-clorita xistos da Formação Pequinzeiro, concentradas em bolsões nestas rochas alteradas. O teor é cerca de seis vezes maior em rochas intemperizadas e veios de quartzo do que em rochas frescas.

O níquel lateríticos é depositado em regiões de maciços serpentinizados do tipo ofiolitos, esses corpos ofiolíticos mostram arranjo do tipo mélange em meio às rochas metassedimentares encaixantes. Os perfis de intemperismo são ricos em níquel em topos de serras e vales intermontanos do complexo Quatipuru – onde são reconhecidos os protólitos harzburgítico e dunítico - e Serra do Tapa.



Figura 4 - Imagem de níquel laterítico formado em maciço serpentinizado.


Estruturação da faixa Paraguai e o ouro


No âmbito metalogenéticos, a faixa é conhecida pelas jazidas de ferro e manganês do Maciço Urucum, em Mato Grosso do Sul, e por mineralização de ouro que ocorrem nas regiões de Cuiabá e Nova Xavantina. O ouro e o ferro são extremamente importantes economicamente, mas a faixa Paraguaia, hoje, é estudada no sentido de buscar potencialidade econômica em depósitos de rochas fosfáticas – associadas à Formação Bocaina.


O ouro da faixa Paraguaia é conhecido desde o século XVIII, descoberto por bandeirantes paulistas na região de Cuiabá, com aumento da intensidade de mineração na década de 1980. Esse ocorre de forma livre e incluso na pirita, indicando que a mineralização ocorreu num estágio tardio. Os depósitos na Baixada Cuiabana são similares ao depósito do Araés, do tipo filoniano, porém com veios mais possantes.


Formações ferríferas e manganesíferas


As jazidas de ferro e manganês do Maciço do Urucum são encontradas na região de Corumbá, ao lado das formações ferríferas pertencentes ao Grupo Rapitan e do Supergrupo Damara. A importância econômica primordial deve-se às jazidas de manganês, que ocorrem na forma de camadas e lentes na base de sucessão essencialmente ferrífera. Porém, no final do século XX, as formações ferríferas passaram a receber mais atenção.

O minério de ferro de Urucum – predominantemente hematítico – é viável economicamente por alguns fatores, como a possibilidade de transporte fluvial através do Rio Paraguai e a natureza do minério, que possibilita redução no processo siderúrgico devido a composição com hematita.



Figura 5 – Imagem de parte do Maciço de Urucum, com as formações ferríferas em processo de lavra. Fonte: Modificado de Paixão (2009)


Autoria: Vitória Gomes Macêdo

Referências:


  • Paixão, Marco & Nilson, Ariplínio. (2002). Fragmentos ofiolíticos da Faixa Araguaia: caracterização geológica e implicações tectônicas.

  • R.N.N., Villas & A.D.P., Lima & Kotschoubey, Basile & Neves, Marcely & Osborne, Grant. (2007). Contexto geológico e origem da mineralização sulfetada estratiforme de São Martim, SW do Cinturão Araguaia, Pará. Revista Brasileira de Geociëncias. 37. 305-323. 10.25249/0375-7536.2007373305323.

  • SILVA, Maria da Glória da et al (Orgs). Metalogênese das províncias tectônicas brasileiras. Belo Horizonte: CPRM, 2014.



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