Greenstone belts (Anhausser, 2014) são sequências de rochas metavulcanossedimentares, de baixo grau metamórfico, constituídas por associações de xistos originados a partir de rochas vulcânicas ultramáficas e máficas komatiiticas e félsicas, intercalados com metassedimentos clásticos e químicos tais como formações ferríferas bandadas (BIF) e chert (Figura 1). São terrenos posicionados entre estruturas dômicas de rochas granito-gnaissícas de composição throndjemitica – tonalitica – granodiorítica (TTG) e comuns em áreas arqueanas, representando restos de crosta oceânica constituída por magmatismo básico-ultrabásico.
Figura 1 - Bloco esquemático de terrenos Greenstone Belt típicos.
As características geológicas dos greenstone belts e seu potencial metalogenético favorecem a formação de depósitos minerais relevantes e amplamente estudados, tendo em vista sua grande importante econômica.
Contexto Geológico Regional
Este texto tem como principal referência o livro Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras (Silva et al., 2014), que abrange os greenstone belts de Goiás em um capítulo desenvolvido por Jost et al. (2014). Nele, os autores expõem um conteúdo claro das principais características desses terrenos com foco nas mineralizações auríferas.
O desenvolvimento dessas sequências no contexto da região centro-oeste do estado de Goiás ocorreu durante o Ciclo Brasiliano, a partir da amalgamação de um fragmento de crosta arqueana-paleoproterozoica na margem oeste da Faixa Brasília. O bloco arqueano de Goiás é um dos constituintes da Província Tocantins (Figura 2) e é formado por complexos ortognaissicos, greenstone belts e, subordinadamente, intrusões recentes.
Figura 2 – Mapa geológico simplificado com as principais unidades da Província Tocantins (adaptado de Pimentel et al. 2004 in Jost 2014).
Os cinco terrenos greenstone belts dessa região correspondem a faixas estreitas, sendo três localizados a norte (Crixás, Guarinos e Pilar de Goiás) e dois a sul (Faina e Serra de Santa Rita) (Figura 3). Os greenstone belts setentrionais possuem em média 40 km de comprimento, enquanto os meridionais somam 150 km.
Contexto Geológico Local
A associação dos terrenos greenstone belts nessa região é dividida entre um segmento setentrional e outro meridional com diferentes evoluções metalogenéticas.
Figura 3: Greenstone belts e complexos que compõem o terreno arqueano-paleoproterozoico de Goiás (Jost et al., 2014).
De maneira geral, a estratigrafia dessas sequências é marcada pela presença de metakomatiítos na base, seguidos por metabasaltos toleiíticos e sequências metassedimentares no topo, sendo todo o pacote metamorfizado em fácies xisto verde e anfibolito baixo. Os protólitos correspondem a derrames de komatiitos - peridotíticos a piroxeníticos - e basaltos seguidos por rochas sedimentares com diferentes origens para cada greenstone belt. A Figura 4 abaixo mostra a coluna estratigráfica dessas sequências para cada um dos greenstone belts no território de Goiás.
Figura 4: Coluna estratigráfica dos cinco greenstone belts de Goiás: Crixás, Guarinos, Pilar de Goiás, Faina e Serra de Santa Rita.
Recursos Minerais e Metalogenia
Nesses terrenos arqueanos-paleoproterozoicos de Goiás, os depósitos minerais têm ocorrência restrita aos greenstone belts, sendo os depósitos de ouro os principais, seguidos por depósitos ainda não avaliados de ferro e níquel. O início da sua exploração nesse território se deu no greenstone belt Serra de Santa Rita, o qual o terreno que deu origem à produção de ouro no estado de Goiás, no ano de 1725, pelos bandeirantes.
Greenstone Belt de Crixás
O greenstone belt Crixás contém hoje o segundo maior depósito gold-only da Faixa Brasilia. Trata-se de um depósito epigenético de ouro com reserva total de 70 t e teor médio de 5 g/t. Nessa sequência são encontrados depósitos de Au do tipo sulfeto maciço, veios de quartzo e minério disseminado, totalizando seis corpos, de acordo com dados da empresa Mineração Serra Grande S.A., pioneira na exploração de minério em Crixás.
Atualmente, minérios em veios de quartzo correspondem aos principais depósitos de ouro em Crixás, com um total de cerca de 1500 m de comprimento e convergindo em profundidade com zonas de sulfeto maciço. O minério desse tipo ocorre disseminado ou preenchendo fraturas na rocha encaixante. O minério de Au disseminado, por outro lado, ocorre em Crixás hospedado em filitos carbonosos.
Greenstone Belt de Faina
No greenstone belt de Faina, minério de ouro em veios de quartzo ocorrem distribuídos em rochas metavulcânicas ultramáficas e máficas basais e metassedimentares siliciclásticas e químicas superiores, com fracos halos de alteração hidrotermal.
O principal depósito dessa região consiste em uma mineralização em dois sistemas de veio de quartzo, estes denominados como Mestre-Cascavel e Cuca. O sistema Mestre-Cascavel tem cerca de 585 metros de comprimento, enquanto o sistema Cuca possui aproximadamente 585 metros, ambos se estendendo em profundidades de até 700 metros. As rochas encaixantes são quartzitos foliados metamorfizados em fácies xisto verde, sendo estes correspondentes do primeiro ciclo sedimentar de Faina, com espessura estimado entre 250 e 300 metros. Ainda em Faina, há corpos de minério em que o ouro ocorre na forma livre, em grãos de 2-3 mm até 3 cm.
Ocorrem também depósitos de ferro em formações ferríferas bandadas do tipo Lago Superior. Esses depósitos se apresentam como lentes nas porções superiores do primeiro e do segundo ciclo sedimentar do greenstone. Nesses casos, as BIF’s estão sobrepostas à dolomitos e sotopostas à conglomerados. Essas unidades possuem aproximadamente 70 metros de espessura, sendo bandadas e compostas por níveis ricos em magnetita e hematita (em geral especularita) alternados com níveis de metachert.
Greenstone Belt de Guarinos
Em Guarinos os depósitos epigenéticos de ouro disseminado são hospedados em metabasaltos com intercalações de filito carbonoso e formação ferrífera. O minério também é encontrado em veios de quartzo, nos quais a alteração hidrotermal pode alcançar até 50 m. Já a ocorrência de depósitos singenéticos é marcada pelo depósito Caiamar, hospedado em biotita gnaisse e no qual o ouro é identificado em um dique de albidito com 1 Km de comprimento, até 2 m de largura.
Existem em Guarinos, prospectos de ferro e manganês do tipo SEDEX. Além disso, assim como em Faina, também ocorrem depósitos de ferro em formações ferríferas bandadas do tipo Lago Superior
Greenstone Belt Pilar de Goiás
O greenstone belt Pilar de Goiás apresenta depósitos epigenéticos de ouro disseminado que, assim como em Crixás e Guarinos, são marcados por venulações centimétricas a decimétricas paralelas à foliação. Ao contrário dos demais, pouco se sabe sobre o estilo da alteração hidrotermal em Pilar de Goiás.
Ocorrem em Pilar de Goiás depósitos de ferro do tipo Algoma, cuja ocorrência é rara nos demais Greenstones. Variam de camadas contínuas de vários quilômetros de comprimento e espessura média de 10 metros até lentes com dezenas de metros de comprimento e com espessura de até 3 metros. São marcados pela presença de magnetita e hematita, grunerita, granada e pirrotita.
Autor: Vítor Rodrigues
Referências:
SILVA, Maria da Glória da et al. Metalogênese das províncias tectônicas brasileiras. 2014.
ANHAEUSSER, Carl R. Archaean greenstone belts and associated granitic rocks–a review. Journal of African Earth Sciences, v. 100, p. 684-732, 2014.