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Metalogenia da Faixa Vazante

Aspectos Gerais

A região do Distrito Zincífero de Vazante (DZN), situada na chamada Faixa Vazante localizada no noroeste de Minas Gerais e compreendendo os municípios de Vazante, Paracatu e Lagamar, é reconhecida como o maior depósito mineral de zinco silicatado do Brasil, sendo um dos maiores do mundo. Esta área inclui ocorrências e depósitos onde o mineral primário predominante é o silicato de zinco (ZnSiO4), conhecido como willemita. Apesar de 85% da produção global de zinco vir da sua forma sulfetada, há um notável interesse no zinco não-sulfetado devido aos seus custos mais baixos de beneficiamento e refinamento. Consequentemente, a região do DZN é altamente relevante para a extração desse minério.

A historiografia da mina conta que as primeiras descobertas de zinco na região ocorreram na década de 1930, mas a exploração só teve início na década de 1950, quando o prospector Angelo Solis descobriu depósitos na Serra do Poço Verde. Em 1954, a Companhia Mineira de Metais (CMM) iniciou pesquisas, e em 1969, começou a extração a céu aberto do minério de zinco oxidado, conforme MARINHO (2015). Em 1980, a mina subterrânea no depósito de Vazante foi desenvolvida. Atualmente, a Votorantim Metais S.A. detém os direitos de exploração e operação das minas subterrâneas no complexo, localizado a 5 km a nordeste da cidade de Vazante/MG.



Mapa de localização do município de Vazante, com destaque para a área de mineração de zinco. (Retirado de Mello et al. 2008)

Geologia Regional

A Faixa Vazante apresenta uma extensão de aproximadamente 250 km de norte à sul e largura de 25 a 30 km, localizada geologicamente na porção centro-sul da faixa Brasília, uma edificação geotectônica que remete ao Ciclo Brasiliano e marca a colisão de continentes resultando na aglutinação do Gondwana (MARINHO, 2015). Além disso, a área é dividida entre zona interna, zona externa e domínio cratônico.

A Zona Interna do orógeno representa o núcleo, sendo composta, na porção centro-sul, pela o embasamento da Suíte Jurubatuba, complexos granulíticos (Anápolis e Itauçu), rochas intrusivas neoproterozóicas e sequências de bacias de ante-arco e prisma acrescionário, representadas pelo Grupo Araxá. Na base, a fácies metamórfica predominante é o xisto verde, aumentando de grau até anfibolito superior e granulito no topo. (Valeriano et al., 2008).

A Zona Externa do Distrito é compreendida por sequências siliciclásticas, incluindo os grupos Canastra, Paranoá, Vazante e Ibiá, com deposição datada de 1,0 Ga (Rodrigues, 2008; Pimentel et al., 2011). Essas unidades foram metamorfizadas, resultando em um cinturão de dobras e falhas, como xisto verde inferior, posicionadas por empurrão sobre o domínio cratônico durante a orogenia neoproterozóica. É neste domínio que encontram-se os distritos zincífero e plumbo-zincífero de Vazante e Morro Agudo, respectivamente, juntamente com o depósito aurífero de Morro do Ouro (Marinho, 2015).

Já o Domínio Cratônico é composto por rochas metassedimentares do Grupo Bambuí. 

A Faixa Vazante apresenta uma extensão de aproximadamente 250 km de norte à sul e largura de 25 a 30 km, além de ser dividida em dois domínios: domínio nortel, em que se predomina depósitos de zinco sulfetado em direção NNW-SSW, e domínio sul, com depósitos de zinco silicatado e direção NE-SW. A metalogênese do DZV está associada principalmente às rochas pelito-carbonáticas do Grupo Vazante e ainda há um debate entre autores que consideram o Grupo como um depósito de margem continental passiva, e outros que o consideram como representante dos depósitos em bacia de antepaís. Atualmente, estratigrafia utilizada para o Grupo é baseada na coluna de Dardenne

et al. (1998) e Dardenne (2000).

Coluna litoestratigráfica do Grupo Vazante, com indicações da posição dos depósitos minerais (Dardenne, 2000).


Metalogênese

A metalogênese de Vazante é de grande complexidade e ainda alvo de estudos e pesquisas que visam entender melhor a mineralização do depósito de Vazante. Tal depósito é associado a um complexo de minas subterrâneas e a céu aberto, o qual foi condicionado a uma zona de brecha hidrotermal associada à Falha de Vazante, que possui direção N50E e mergulho de 50-70 para NW. Tal falha passou por 3 fases de movimentações tectônicas, conforme Silva et. al (2014):

  • Falha normal: houve o preenchimento das descontinuidades geradas por fluidos da mineralização primária, seguido de intenso fraturamento das rochas carbonáticas encaixantes;

  • Falha inversa transcorrente: associada ao Evento Brasiliano, houve compressão dos corpos, lenticularização do minério e das carbonáticas associadas, enriquecimento em sílica, deslocamento de veios e deslizamento dos estratos sedimentares;

  • Falha normal por descompressão: precipitação de jaspe e sulfetos nos interstícios gerados.


A mineralização está associada a intensa silicificação e sideritização dos dolomitos encaixantes, com fraturas preenchidas por veios de siderita/ankerita e jaspe vermelho. A willemita, principal mineral-minério , é associada principalmente à hematita e zincita, com presença subordinada de franklinita, smithsonita, esfalerita e galena, Silva et. al (2014). A zona de falha mineralizada, com largura superior a 15 m, exibe intenso cisalhamento da mineralização original, refletido por formas lenticulares e imbricadas dos pods de dolomitos, minério willemítico e, às vezes, minério sulfetado. Paralelamente à estrutura filoniana principal, a leste, há uma mineralização cárstica denominada minério de calamina, preenchendo cavidades de dissolução de até 100 m de profundidade. Este minério, também rico, é composto por hemimorfita associada a óxidos e hidróxidos de zinco, além de hidrozincita. A mineralização cárstica é controlada por fraturas NE e NW. (Monteiro et al. 2007 e Silva et al. 2014).



Seção geológica esquemática da Mina de Vazante. As siglas AF na legenda referem-se às associações de fácies das formações Serra do Poço Verde e Morro do Calcário (retirado de Silva et al. 2014).



Ocorrências e indícios da mineralização


No Distrito Zincífero de Vazante (DZV), além dos depósitos associados à Falha de Vazante, há várias áreas com registros e evidências de mineralizações de zinco. Esses indícios e ocorrências têm sido documentados desde o início do século 20 e têm sido amplamente investigados por empresas de mineração e pela CPRM nas últimas décadas. Como exemplo, temos as seguintes regiões:



  •  Brechas em região de falha: Nos arredores da cidade de Vazante, as regiões de brecha hidrotermal apresentam grande controle estrutural, com a formação de corpos alongados e anastomosados, que se encaixam em níveis distintos dos dolomitos e pelitos da Formação Serra do Poço Verde;

  • Mina do Cercado: Foi minerado um corpo mineralizado com 200m de comprimento e 40m de largura, representado por uma brecha hidrotermal composta de willemita e hemimorfita em meio a uma massa composta com predomínio de hematita e clorita;

  • Pamplona/Mata I/Vazante Norte: Afloramentos representados por brechas  hidrotermais ferruginosas hospedadas em dolomitos típicos do topo da Formação Serra do Poço Verde, ou seja, dolomitos rosados com estromatólitos.



Mapa simplificado da região de Vazante com destaque para as brechas de falha do Distrito Zincífero de Vazante. (retirado de Silva et al. 2014).



Operação e Processamento Mineral 


Os direitos minerários da porção da Mina Vazante foram inicialmente adquiridos pela Companhia Mineira de Metais (CMM) em 1956. A CMM posteriormente tornou-se Votorantim Resources em 2005 e Nexa Resources S.A. em 2014, empresa que vigora até então. Em 2022, a mina Vazante extraiu cerca de 131,5 mil toneladas de zinco em concentrados, 1,2 mil toneladas de chumbo em concentrados e 473,6 mil onças de prata em concentrados. O minério é explotado em mina subterrânea e o processamento ocorre em uma planta de concentração com capacidade para tratar 4,6 mil toneladas de minério por dia, conforme informa relatório disponibilizado no próprio site da Nexa.

Conteúdo em porcentagem de minério tratado e produção de metal contido de Zinco e Cobre em porcentagem (%) e em onças/t e MMoz de Prata nos anos de 2020 a 2022. Fonte: Site da Nexa


Inicialmente, as operações em Vazante processava calamina (composta por smithsonita (ZnCO3) e hemimorfita (Zn4Si2O7(OH)2·H2O)), o qual tornava o processamento mais desafiador e custoso, com uma recuperação de zinco geralmente em torno de 50%, enquanto a recuperação de zinco de minérios de willemite varia de aproximadamente 81% a 91%. A recuperação recente de zinco para o concentrado (2017 a 2020) variou de 84% a 87%.

A Operação Vazante produz aproximadamente de 350.000 a 370.000 toneladas por ano (tpa) de concentrado de zinco e cerca de 4.000 a 5.000 tpa de concentrado de chumbo que contém prata. Devido à mineralogia do minério, o concentrado de zinco produzido na Operação Vazante possui teores elevados de sílica, cálcio, magnésio e carbonatos (NEXA RESOURCES, 2021).


Autoras: Isabela Farias e Alicia Ligeiro



Referências Consultadas


SILVA, Maria da Glória da et al (Org.). Metalogênese das províncias tectônicas brasileiras. Belo Horizonte: CPRM, 2014.


MARINHO, Marcelo de Souza et al. Metalogenia das províncias minerais do Brasil: distrito zincífero de Vazante, MG. CPRM, 2015.


Monteiro L.V.S., Bettencourt J.S., Juliani C., Oliveira T F. 2007. Non sulfide and sulfide-rich zinc mineralizations in the Vazante, Ambrósia and Fagundes deposits, Minas Gerais, Brazil: Mass balance and stable isotope characteristics of the hydrothermal alterations. Gond. Res., 11:362-381.


Nexa Resources S.A. | Vazante Polymetallic Operations, SLR Project No: 233.03245.R0000 Technical Report Summary - February 15, 2021 


VALERIANO C. M.; PIMENTEL M. M.; HEILBRON M.; ALMEIDA J. C. H.; TROUW R. A. J. Tectonic evolution of the Brasília Belt, Central Brazil, and early assembly of Gondwana. Geological Society, London, Special Publications. S.N.T., n. 284, p. 197 – 210, 2008.


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