Localização geográfica
A província dos Tapajós, com área de 80.650 km2, está localizada na parte oeste do estado do Pará, próximo ao limite com o estado do Amazonas e do Mato Grosso, entre as cidades de Itaituba, Jacareanga, Novo Progresso e Trairão.
Geologia regional/Contexto geológico
Geologicamente, está inserida na porção centro-sul do Cráton Amazônico, com orientação noroeste-sudeste que reflete as principais falhas e zonas de cisalhamento transcorrentes que controlaram o posicionamento dos depósitos vulcânicos e das intrusões ígneas. É o maior segmento da província de Tapajós-Parima e também ocupa parte da Amazônia Central (Santos et al 2000). Sendo assim, igualmente ao Cráton Amazônico, tem rochas majoritariamente pré-cambrianas, com várias unidades litoestratigráficas descritas.
Figura 1: Províncias geocronológicas do Cráton Amazônico, segundo Santos (2003), com os domínios da Província Tapajós-Parima e Amazônia Central (Vasquez et al. 2008b).
De maneira geral, a evolução dessa região é associada à um núcleo paleoproterozoico que foi submetido a processos de acresção e encurtamento crustal, por exemplo, sua porção mais ocidental é formada por uma faixa com 1,96 – 1,8 bilhões de anos, de evolução associada à acreção de no mínimo um arco magmático continental na borda do cráton.
Durante o Paleoproterozoico, mais especificamente na orogênese orosiana, a Província Tapajós foi submetida a uma tectônica responsável pelo desenvolvimento de quatro principais eventos plutônicos e vulcânicos durante 140 Ma. Os três primeiros denominados de Cuiú-Cuiú, Creporizão e Parauari - que também são unidades geológicas - estenderam-se de 2.010 a 1.870 Ma, e correspondem a arcos magmáticos relacionados à subducção. Já o quarto evento denominado de Maloquinha, é datado por volta de 1.870 Ma e é associado com a fusão parcial da crosta antiga, com magmatismo alcalino.
Grupo Jacareanga
É uma sequência metavulcanossedimentar de baixo grau metamórfico e apresenta as rochas mais antigas da província. São xistos (mica-quartzo, mica-quartzo-feldspato, talco e actinolita-xisto), cherts, quartzitos micáceos e ferruginosos associados com turbiditos e menos comumente, basaltos.
Complexo Cuiú-Cuiú
É o embasamento regional na província, são rochas metamórficas de médio a alto grau de metamorfismo com associação de ígneas plutônicas, como ortognaisses, anfibolitos e granitoides que variam de granodioritos a tonalitos.
Figura 2: Granitoide com estrutura de fluxo magmático e bandamento composicional e textural; Complexo Cuiú-Cuiú. Fonte: Província Mineral Tapajós: Geologia, Metalogenia e Mapa Previsional para Ouro em SIG.
Suíte Intrusiva Creporizão
Corresponde a um conjunto de batólitos graníticos com feições majoritariamente ígneas atribuídas a deformações que diferenciam os granitoides em relação ao do Complexo Cuiú-Cuiú. Basicamente as rochas são sienogranitos e monzogranitos com subordinação de granodioritos e tonalitos.
Suíte Intrusiva Parauari
Localizada predominantemente no domínio central, apresenta a litologia mais expressiva nas áreas de estudo. São granitoides que ocorrem em estruturas ígneas, principalmente batólitos e stocks, e consistem em granodioritos com biotita e/ou hornblenda comumente subordinados com monzogranitos. Além disso também possui fácies graníticas de monzogranitos e sienogranitos.
Suíte Intrusiva Maloquinha
São intrusões subvulcânicas e plutônicas de natureza cálcio-alcalina que ocorrem intrudindo rochas do complexo Cuiú-Cuiú e das suítes Creporizão e Parauari, com contato condicionado por falhamentos de direção NW-SE. De maneira geral, consiste em granitos róseos e biotita granitos, com granulação fina a grosseira, com idade de 1.770 Ma.
Depósitos minerais
Os depósitos minerais da Província Mineral Tapajós são essencialmente auríferos e ocorrem em diferentes tipos de rochas encaixantes. A principal são os granitoides, mas também aparecem em rochas do embasamento, que são gnaisses tonalíticos e graníticos, nas supracrustais, como xistos, em sedimentos de idade 1.895 Ma, nas rochas básicas como gabros e em rochas vulcânicas félsicas. Estruturas comuns das mineralizações de ouro são veios de quartzo ou fases subordinadas a veios maciços de sulfetos que se desenvolvem ao longo dos planos de cisalhamento.
Principalmente, são relacionados a modelos magmáticos-hidrotermais, metamórfico-hidrotermais, do tipo pórfiro e de intrusões.
Modelo magmático-hidrotermal
As zonas epitermais são caracterizadas pela mineralização high-sulfidation que se acomoda em rochas vulcânicas e vulcanoclásticas félsicas em complexos de caldeiras agrupadas, formadas em fases finais do magmatismo Parauari. A high-sulfidation ocorre em rochas hospedeiras vulcânicas e vulcanoclásticas intermediárias a ácidas, como dacitos e riolitos porfiríticos, em que vastas zonas de alteração hidrotermal afetaram tais rochas.
Modelo metarmórfico-hidrotermal
Na parte central da província, em que o nível de erosão é mais avançado, os depósitos são classificados basicamente em mesozonais, onde o ouro é marcadamente orogênico, isto é, sua gênese é intimamente relacionada com o desenvolvimento de processos tectônicos acrescionários de subducção que a província foi submetida no paleoproterozóico. Já na porção leste, onde o sistema vulcânico-plutônico é mais preservado, são epizonais e sua mineralização é relacionada com processos underplating (fusão parcial do magma na base da crosta), logo o ouro é mais susceptível de ser minerado a céu aberto.
Outras associações do ouro observadas na região são com a prata e metais base, como o cobre. Também, se tem conhecimento de garimpo de cassiterita, indícios de mineralização de molibdênio e aluviões de turmalina, topázio, ametista e diamante. Com a crescente expansão da atividade garimpeira e pesquisas para ouro feitas por empresas de mineração, numerosas ocorrências de sulfetos (calcopirita, galena e esfalerita) também têm sido identificadas.
Exploração mineral
A exploração mineral em Tapajós tem sido focada sobretudo em mineralizações filonianas auríferas, sobretudo por explorações rudimentares garimpeiras, desde sua descoberta até os dias atuais. Apresenta grandes potenciais, sendo que já foram produzidas cerca de 159 toneladas entre 1958 a 1996 (Araújo Neto, 1996), mas ainda não foi suficientemente explorado diante das dificuldades técnicas encontradas pelos garimpeiros para continuar extraindo o ouro que se tornava cada vez mais de difícil acesso. Apenas trabalhos recentes de pesquisa mineral realmente comprovam a existência de depósitos auríferos importantes.
Figura 3: Proposta de evolução tectono-geológica para a Província Mineral do Tapajós e a relação com as mineralizações de ouro. Fonte: Província Mineral Tapajós: Geologia, Metalogenia e Mapa Previsional para Ouro em SIG.
Apresenta basicamente três eventos de deformação, o primeiro de data superior a 1870 Ma) é tafrogênico e apresenta falhas relacionadas à rifteamento, o que permite a ascensão magmática na crosta continental. Em seguida, no período de 1880-1870, há um evento distensivo a transpressivo relacionado com a fusão do magma na crosta, gerando grande manifestação vulcânica e promovendo íons de Au mineralizantes na Amazônia Central. Por fim, entre 2010 - 1870 Ma se desenvolveu um arco magmático por subducção na região, por meio de um evento compressivo a transpressivo, que também consolidou as mineralizações de ouro e também granitoides na crosta continental.
Mina do palito
A Mina do Palito, localizada próxima do município de Jardim do Ouro, no Pará, é a primeira a ser explorada na Província Tapajós e é o depósito de maior interesse por parte das mineradoras. Esse atrativo das empresas de mineração pelo local deve-se ao fato de ser um grande depósito de ouro e cobre, principalmente. Juntamente com a mina São Chico são as únicas minas de ouro de rocha sólida na região de Tapajós.
Figura 4 : Conexão mineral, entrada mina do palito, 11 dez. 2020. Disponível em
https://www.conexaomineral.com.br/noticia/1824/serabi-gold-completa-20-anos-e-encerra-2020-com-novos-projetos-adquirido s.html. Acesso em: 8 jun. 2022.
As rochas hospedeiras mais características são os granodioritos Parauari e Fofoquinha, granitos Maloquinha, Palito - de forte coloração vermelha oriunda de intensas alterações hidrotermais - e Rio Novo, além de restritas intrusões de magnetita-granito, diques de pórfiros, algumas rochas básicas, diques de brechas hidrotermais e rochas cataclásticas próximas às zonas de falhas.
Os minérios quartzo-ouro-cobre estão condicionados de acordo com a direção noroeste-sudeste das estruturas rúpteis que cortam as litologias da região, formando a base do depósito aurífero da Zona Principal do Palito. Sendo assim, aparecem principalmente associados a conjuntos de veios de quartzo sulfetados e veios de sulfeto maciços, como a calcopirita.
A extração do ouro nessa parte principal do ocorre nos níveis superiores de um grande granito, do tipo adamelito intrusivo, estando associados às rochas vulcânicas félsicas . A mineralização ocorre em veios mesotermais (águas termais que tem uma temperatura média entre 33 e 36 °C) verticais a subverticais. A porção na rocha do mineral procurado é de 15 a 30 gramas de ouro por tonelada de minério.
Figura 5: Planta de processamento trabalhando na extração de ouro na Mina do Palito. Fonte: Serabi conclui galerias de acesso à minério de alto teor na mina de ouro Palito, 06 setembro 2013. Disponível em: https://www.noticiasdemineracao.com/outros/news/1129654/serabi-conclui-galerias-acesso-minerio-alto-teor-na-mina-ouro-palito. Acesso em: 8 jun. 2022.
Figura 6: Mapa geológico simplificado da Mina do Palito. Fonte: Metalogênese das províncias tectônicas brasileiras.
Figura 7: Dados acerca da extração de ouro e cobre na mina do Palito, a) teor de minério (1 grama por tonelada), b) valor do minério usando como base um preço de longo prazo. Sendo do ouro 700 dólares por onça e do cobre 2,75 dólares por libra. Fonte: SERABI GOLD – companhia de mineração e exploração de ouro, 2019. Disponível em https://www.serabigold.com/pt-br/projetos/a-mina-de-ouro-palito/. Acesso em: 25 maio 2022.
Autores: Cássio Lopes e Davi Luiz
Referências
JULIANI, Caetano; VASQUEZ, Marcelo Lacerda; KLEIN, Evandro Luiz; et al. Metalogênese da Província Tapajós. In: Metalogênese das províncias tectônicas brasileiras [S.l: s.n.], p. 229-268, 2014.
Maria Glícia da Nóbrega Coutinho (ed.). Província Mineral Tapajós: Geologia, Metalogenia e Mapa Previsional para Ouro em SIG. Rio de Janeiro, 2008. 421 p
COUTINHO, M. G. da N, SANTOS, J. O. S, FALLICK, A. E and LAFONT, J.M. Orogenic Gold Deposits in Tapajós Mineral Province, Amazon Brazil. Disponível em: https://rigeo.cprm.gov.br/jspui/bitstream/doc/17132/1/orogenic_gold_tapajos.pdf. Acesso em: 26 maio 2022.
Goldmen Resources. Disponível em: http://www.goldmen.com.br/projetos. Acesso em: 25 maio 2022.
GEOLOGIA Tapajós. Disponível em: https://www.serabigold.com/pt-br/projetos/exploracao-regional-na-regiao-do-tapajos/geologia-tapajos/. Acesso em: 25 maio 2022.
VASQUEZ, Marcelo Lacerda; RICCI, Paulo dos Santos Freire; KLEIN, Evandro Luiz. Granitóides pós-colisionais da porção leste da Província Tapajós. Belém, p. 67-84, 2008.